De repente... 30.

em 26 de julho de 2012


Ok, concordo. Esse post com nome de filmezinho comédia romântica é muito biba, mas o blog é meu e eu escrevo o que quero (ai, como ela tá nervosa!). O fato é que já passa um pouco da meia noite e acabo de completar 30 anos. Pausa para reflexão...
Agora falando sério. Pra mim é só mais uma data, apesar de bastante emblemática. Trinta anos. Isso soa meio que como um divisor de águas para a maioria das pessoas. Para muitos serve de parâmetro, tipo: "quando eu tiver 30 anos já quero ter alcançado minha independência financeira, ter um certo patrimônio, etc, etc, etc". Algumas mulheres, por exemplo, têm horror à ideia de chegar aos trinta sem casar: "Ficar pra titia? Nem pensar..." Pra mim é mais um número, mais um dia. Eu também fiz planos para os trinta, mas eles não correram conforme o esperado. Fazer o quê?
Sem dúvida, o fato mais marcante nessa minha curta trajetória foi o acidente que causou a lesão medular e mudou os rumos de tudo o que eu planejava. Mas a vida tem dessas coisas, não é mesmo? Novos planos foram feitos, novas expectativas criadas, novos objetivos vêm sendo traçados. Parece que foi ontem que eu saí da faculdade, gozava de plena capacidade física e enxergava mil possibilidades, quando esse imprevisto me jogou um balde de água fria, o destino (se é que isso existe) me deu um tapa na cara.
De lá pra cá se passaram seis anos e seis dias de muito aprendizado. Sim, porque aquela história de que a vida ensina é verdade, eu bem sei disso. Religião? Não tenho. Nunca me identifiquei, mas tenho profundo respeito. Apenas não é a verdade em que acredito, eu tenho a minha, você a sua. Toda reflexão que tive me ensinou apenas uma coisa: tenho que viver a vida que tenho hoje. Pode não ser aquela que idealizei, mas é a única que posso viver e tenho que tirar o máximo dela.
Não gosto de lições de moral, escrever isso aqui não tem essa intenção. É apenas uma constatação, quiçá uma provocação. Já aprendi que ficar preso ao "e se..." não me leva a lugar nenhum. "E se isso não tivesse acontecido?". Sei lá, nunca vou saber. Então pra que perder o meu tempo pensando nisso? Amanhã o dia é cheio, vou receber família e amigos pra comemorar. Não deu pra fazer o festão que gostaria, mas vai ser legal, tenho certeza. Botar o fígado pra trabalhar.
De repente... 30. E que venham mais.


Diel

em 23 de julho de 2012


Ontem eu perdi um amigo. Um cara que tive o privilégio de conhecer e conviver nos últimos três anos. Josevaldo, ou Diel, como era conhecido por todos, foi antes de tudo um guerreiro. Conheci sua história e aprendi a admirar a força e determinação na luta que travava pela inclusão das pessoas com deficiência. Ele me contou algumas vezes como foi sair do fundo do poço, da depressão causada pela lesão medular, pelo fato de não poder mais andar, controlar o próprio corpo. Dizia que passou muito tempo sem querer sair de casa, sem estímulo, sem vontade pra enfrentar o mundo naquela condição, mas encontrou coragem e decidiu seguir em frente.


Encontrou no esporte a melhor forma de integrar as pessoas com deficiência à sociedade, ajudou muita gente com a sua própria experiência, inclusive a mim. Foi um dos fundadores do CIEP (Centro Integrado de Esporte Paratleta), instituição que defendia com todas as suas forças. Lembro quando cheguei ao treino da equipe de basquete em meados de 2009 e encontrei um cara solícito, aberto e interessado em ajudar. O basquete me proporcionou uma grande melhora da condição física: força, equilíbrio,capacidade respiratória... e até minha autoestima. Mas, antes de tudo, me permitiu conhecer pessoas tão iguais e tão diferentes de mim. Histórias de sofrimento, coragem, superação e amizade. E mais que tudo, me apresentou este cara.


Tive a felicidade de ajudá-lo quando consegui uma almofada Roho, objeto de desejo de muitos cadeirantes por lesão medular. No momento ele sofria com seguidas escaras (úlceras de pressão) e essa almofada ajuda a prevenir este tipo de lesão. Até hoje lembro da cara que ele fez quando soube da surpresa, meio sem jeito cogitou recusar o presente, mas já não tinha jeito, a almofada é sua, meu amigo.
A dor da perda é grande, mas só podemos refletir e entender como ele gostaria que agíssemos daqui pra frente. Temos que manter viva a memória de Diel e a melhor forma de fazer isso é dar continuidade ao seu trabalho. Amigos, parentes, atletas do CIEP, vamos seguir com o legado deixado por nosso guerreiro, nossa grande referência. Ontem passei a tarde no hospital tentando ajudar Tarcísio, nosso grande apoio, a resolver umas questões burocráticas e pude sentir a dor da perda. Fui dar uma última olhada no meu amigo e pude ver que, apesar do sofrimento que vinha passando, mantinha a mesma feição de serenidade conhecida por todos. Não pude comparecer ao velório, mas tive um momento solitário de reflexão e despedida.




Amigo, sua passagem ficou marcada e tocou a vida de muita gente, digo isso por experiência própria. Agora só guardamos a lembrança e a saudade. Do seu amigo e admirador.
Ronald


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